quarta-feira, fevereiro 27, 2013

LOCALIDADE DO CONCELHO DE SANTANA É MARCADA PELA RURALIDADE, MAS É TAMBÉM MUITO DINÂMICA


Uma “Ilha” com potencial ambiental, turístico e humano

Situada entre duas ribeiras, a freguesia da Ilha a isso deve o seu nome. Trata-se de uma localidade cujos principais vectores de desenvolvimento são a agricultura, o ambiente e o turismo, os quais se associam a outra mais-valia: as pessoas.

É uma ilha dentro de outra ilha. Localizada entre duas ribeiras, no concelho de Santana, a freguesia da Ilha a isso deve o seu nome e tem a particularidade de ser uma localidade com todas as características associadas ao mundo rural, com um forte potencial da actividade agrícola e com uma componente ambiental e turística muito atractiva. Tudo isto tendo como base o seu património humano.

António Trindade, presidente da Casa do Povo local, aponta mesmo a agricultura, o ambiente e o turismo como os três vectores de desenvolvimento da freguesia, considerando que os mesmos «devem estar interligados pela complementaridade que assumem, mas, sobretudo, alicerçados naquilo que verdadeiramente distingue a freguesia da Ilha - as pessoas». «O nosso povo é a nossa marca» sustenta.

Em termos de características naturais, o presidente da referida colectividade não deixa de realçar o facto de alguns dos locais considerados como fazendo parte da “nobreza” da natureza madeirense estarem localizados nesta freguesia, nomeadamente o Caldeirão Verde e o Pico Ruivo, que ficam situados em pleno coração da Floresta Laurissilva.

«Existem aqui alguns locais susceptíveis de serem potenciados turisticamente que pertencem a este território», frisa o nosso interlocutor, acrescentando que estas componentes podem também ser geradoras de emprego, de rendimento e, possivelmente, de fixação de pessoas, algo que «é fundamental numa freguesia». Sublinhando a grande riqueza da população em termos culturais e de tradições, António Trindade salienta que essa mesma característica, aliada ao potencial ambiental e turístico, pode contribuir para dinamizar e projectar ainda mais a localidade.

É nesse sentido que as instituições da freguesia, entre as quais a que dirige, têm como principais papéis contribuir para a afirmação local e fomentar o investimento privado em áreas estratégicas e diferenciadoras, bem como assegurar as condições de vida e garantir o bem-estar social das populações, através do desenvolvimento de projectos sociais e culturais.

No caso concreto da Casa do Povo, António Trindade refere que tem apostado nesse sentido, pegando nas potencialidades das pessoas, nas tradições e tentando empreender, criando postos de trabalho e dinâmicas económicas. Um exemplo disso é o projecto social que está a ser desenvolvido desde 2007 e que tem como objectivo proporcionar oportunidades de trabalho a pessoas desfavorecidas. Desde essa altura, já foram dadas oportunidades a 22 pessoas. «Nós identificámos o que é que as pessoas sabiam fazer e o que é que podíamos potenciar em termos de emprego e criámos este projecto social», explicou o responsável.

Por outro lado, António Trindade não deixa de fazer referência aos eventos que são promovidos pela instituição naquela localidade, com o intuito de promover a freguesia, criar atractividade e fazer com que seja cada vez mais conhecida e mais visitada (dinamizando assim também o comércio e valorizando o património humano). Entre os mesmos, assumem maior destaque e projecção a Exposição Regional do Limão, o Dia do Emigrante e a Semana Cultural da Ilha. A estes, juntam-se outros pequenos eventos durante o ano, e iniciativas que criam uma dinâmica diária.

«Recanto pacato»

Pascal Pedro, residente no sítio da Ermida, considera que a ruralidade da freguesia da Ilha é a sua grande mais-valia.

Este morador destaca as «paisagens bonitas» daquela localidade, dando ênfase especial à laurissilva, belezas naturais que podem ser observadas e vividas bem de perto, através das veredas e levadas da freguesia. Aliás, segundo refere, há muita gente que ali se desloca (alguns para passar os fins-semana) «só para usufruir do silêncio e da calma». «Isto aqui é um recanto pacato onde não há muita confusão», salienta, acrescentando que «por ser um lugar calmo e tranquilo, é óptimo para passar uns dias e descansar».

Aliás, é esta mesma potencialidade turística que Pascal Pedro quer explorar, estando, para isso, a fazer um curso de guia de montanha. Enquanto proprietário de uma unidade de turismo de habitação naquela localidade (conjuntamente com a família), o contacto que tem estabelecido com as agências de viagens tem-lhe permitido constatar que esta é uma área na qual vale a pena apostar. O objectivo é tentar incentivar mais turistas a «virem cá visitar a nossa terra», afirma, acrescentando ainda que o turismo de montanha e as caminhadas são cada vez mais procurados.

Governo da República está a «enterrar-se»

A população da Ilha mostra-se contra a reorganização do mapa das freguesias anunciada pelo Executivo nacional.

O presidente da Junta de Freguesia considera mesmo que o Governo da República «se está a enterrar com as leis que está a fazer». «Só estão a fazer asneiras», diz Manuel Jesus, referindo-se a esta questão da reorganização do mapa de freguesias e também à lei de limitação de mandatos. «Julgo que é um erro gravíssimo que o Governo da República e os senhores deputados estão a fazer», frisa.

Por seu turno, Virgínia Pedro considera que seria um «grande transtorno» para a população se algum dia fosse tomada a decisão da extinguir a sua freguesia. Já Pascal Pedro diz que tal seria «andar para trás». «Desenvolver é andar para a frente e não para trás», adianta, advertindo ainda que «regredir é impensável».

Também Maria Dora defende a continuidade da freguesia, sublinhando que não faz sentido voltar a ser «sítio».

Agricultura e tradições mantêm-se vivas

A Ilha é uma freguesia onde grande parte da população ainda se dedica à agricultura, sendo o limão o produto mais emblemático e, inclusivamente, uma das imagens de marca da localidade. A par disso, esta é uma zona onde ainda se mantêm vivas algumas tradições, entre as quais a tecelagem e outros trabalhos manuais. Embora nem sempre tenha tempo para tal, quando pode, Virgínia Pedro ainda tece os tradicionais tapetes de retalhos no seu próprio tear. «Gosto de fazer para mim mesma, porque é uma tradição que já vem da minha avó e da minha mãe», diz, acrescentando que há ainda «duas ou três» pessoas que se dedicam a esta arte, mas que já não é fácil encontrar jovens que «se interessem por estas coisas».

Freguesia rural mas «muito bem organizada»

Maria Dora, proprietária de um estabelecimento comercial junto à Igreja, diz que a Ilha é uma freguesia rural, mas «muito bem organizada» e destaca as infra-estruturas e serviços ali existentes, bem como a dinâmica gerada pelos eventos que ali decorrem, tais como a Festa do Limão, o Dia do Emigrante e a Semana Cultural. Iniciativas, que, refere, são importantes para atrair visitantes à localidade e também para a própria dinamização do comércio local.

Por outro lado, Maria Dora destaca a calma e o verde da freguesia, factores que levam até ali muitos turistas para percorrerem os percursos pedonais existentes, um facto igualmente importante para fazer mexer a economia local.

A nossa interlocutora não deixa também de fazer referência à actividade agrícola, à qual se dedicam grande parte das pessoas, algumas não só para consumo próprio como também para venda.


Contributo para o turismo

Biosfera importante

O presidente da Junta de Freguesia da Ilha destaca as qualidades turísticas da freguesia, materializadas através da Laurissilva, das veredas e levadas e da beleza das suas paisagens naturais. Para Manuel Jesus, o potencial turístico da Ilha torna-se ainda maior e mais promissor, graças à atribuição do galardão de Reserva da Biosfera ao concelho de Santana.

Por outro lado, Manuel Jesus enaltece a dinâmica da freguesia, traduzida nos seus principais eventos (as festividades descritas no texto ao lado). «Temos de continuar a fazer isso, porque são as nossas tradições», afirma, sublinhando que, nesse sentido, é uma mais-valia falar com as pessoas idosas da localidade, porque «são essas que têm os segredos do passado».

A outro nível, o presidente da Junta de Freguesia refere que esta é uma localidade que ainda vive em parte da agricultura, sendo que algumas pessoas vendem os seus produtos, o que representa um complemento importante na actual conjuntura.

Actualmente no seu último mandato enquanto autarca, Manuel Jesus está a preparar as comemorações do Dia da Freguesia, que decorrerão no dia 21 de Abril e que irão contar com uma missa, uma sessão solene e um convívio.

RICARDO CALDEIRA


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