No norte da Madeira, mais concretamente, na freguesia da Ilha, concelho de Santana, encontramos uma bebida apropriada para beber, sobretudo, nos dias mais frios. Trata-se da ponchilha, nome atribuido pela fusão do nome poncha e o nome da freguesia. A poncha é feita com a produção local de limão e demais produtos tradicionais da Ilha, o mel e a aguardente.
A ponchilha é produzida e comercializada pela empresa de inserção “Ao seu lar”. Esta empresa também produz licor de limão e concentrado de limão, este último produto está à venda numa cadeia de supermercados da Madeira.
“Ao seu lar” surgiu no âmbito de uma medida de emprego, um projecto social do Instituto de Emprego da Madeira. “O objectivo não é o lucro, trata-se de um projecto social que surgiu para prestar serviços em três áreas: limpeza, agricultura e produção de produtos característicos”, explicou Elsa Marques, da equipa de enquadramento desta empresa de inserção.
O presidente da Casa do Povo da Ilha, António Trindade, que este na origem desta empresa destaca o facto de ter surgido no âmbito do conceito de empreendedorismo social, “para potenciar ao nível económico os produtos locais da Ilha e criar oportunidades de emprego”.
Actualmente, esta empresa dá trabalho a 10 pessoas. “Tem sido um projecto que apesar de estarmos localizados numa freguesia pequena e mais distante da capital, temos conseguido ir de encontro ao objectivo, que não é o lucro mas sim a inclusão, o aumento dos postos de trabalho e dar mais condições às pessoas que antes não tinham grandes qualificações para procurarem trabalho”, apontou. Antes de iniciarem o contrato de trabalho, as pessoas tiveram seis meses de formação nestas três áreas.
“Estando esta empresa inserida numa freguesia em que o produto característico é o limão, consideraram que esta é uma forma de escoar o produto que existe em grande quantidade na freguesia da Ilha, optaram pela confecção da ponchilha”, continuou dizendo. “A diferença é que são produtos de cá da freguesia, principalmente, o limão e o mel, mas este não é sempre exclusivo da freguesia porque, dada a procura, por vezes temos que recorrer a outros fornecedores”, reiterou.
A ponchilha encontra-se à venda na Casa do Povo da Ilha e durante os eventos de maior divulgação, a Exposição do Limão, a Semana Cultural e no Dia do Emigrante. “Nestes dias, a venda é superior, tanto a copo como em garrafa, seja a ponchilha ou licor”, apontou.
Todos os meses, a empresa “Ao meu lar” está presente na feira do Mercado dos Lavradores, no Funchal onde, além da ponchilha e do licor, se encontra o queque de limão e o bolo de limão, duas das iguarias mais típicas da Ilha.
Elsa Marques recorda que se trata de uma bebida quente, com uma tradição de anos, que as pessoas bebiam para aquecer porque não tinham aquecedores nem cobertores nem endredons. “Antes, uma forma de aquecer era através dos licores, da poncha e, sobretudo, da aguardente de cana para fazer a poncha”, frisou.
Quando as missas do Parto são celebradas bem cedo, na Ilha, a ponchilha serve para aquecer os paroquianos no final da missa. Esta prática foi promovida por um dos ex-párocos, o Pe. Rui, que incentivava os paroquianos a levarem uma iguaria para depois da missa promover um convívio.
Há também quem faça licores, não só de limão mas de amora e morango e confeccione o bolo família para o Natal.
Na Ilha, a exemplo das demais freguesias da Região, no Dia de Natal não pode faltar a carne vinho-alhos para retemperar as forças, depois das romagens da noite anterior.
Élia Freitas
Revista Olhar - Jornal da Madeira
18/11/2011
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